Ao ler o artigo do conceituado advogado e jornalista Isaac de Barros, na primeira semana de outubro, sexta-feira (7/10), divaguei da mesma forma que ele em minhas recordações... Consegui ouvir o ranger das rodas pesadas das carretas, puxadas por fortes, vigorosos e cansados bois, que tinham por missão trazer famílias inteiras das bandas do sul.
Os pioneiros aqui chegaram cheios de sonhos, prontos para desbravar uma terra próspera, onde construiriam uma nova etapa de vida, uma nova comunidade. Entre eles estava meu avô materno, tinha então dezesseis anos e era integrante de uma dessas famílias. Tempos depois, Dário Pires de Freitas construiu na sua propriedade uma numerosa família.
O ranger das carretas só existe na memória daqueles que viram Dourados nascer, crescer e prosperar ao suor dos trabalhos dos pioneiros dessa terra, que passaram suas histórias de pai para filho. Hoje revolta-nos ouvirmos que Dourados é “Terra de ninguém”, todos que aqui chegam, sem ao menos procurar conhecer a nossa história e nossa gente, opinam em alto e bom som, sobre o que Dourados precisa! Conhecem a história? As tradições? Os antigos tratos do “fio do bigode”?
Dourados não é “Terra de ninguém”, é sim uma terra de desbravadores que muito perseveraram para “Ela” se tornar o que hoje é. Existe toda uma trajetória de lutas, desapego, bem como “causos” pitorescos, contados em roda de conversa, como o do “Seo” Laquicho, “não é Melica?”
O leitor pode pensar que o que se passa nestas linhas é mero saudosismo ou xenofobismo, mas reflita comigo: quantos prefeitos douradenses já tivemos? Digo douradenses aqueles que realmente nasceram aqui, não os que adotaram Dourados. E vereadores? Quantos mesmo?
Tem partido político que faz verdadeira “via sacra” de seus membros, na busca de ocupar cargos de confiança, perdem o mandato em um determinado município, migram para outro no qual são detentores do poder, (você já viu essa história?). Dessa forma Dourados tem “forasteiros” oriundos de outros rincões dizendo que: Dourados é a cidade do seu coração, “já sou douradense”, será? Basta deixarem o poder, retornam para suas origens, deixando um rastro de discórdia, insegurança...
Não podemos deixar que a cidade de Dourados seja como uma árvore na beira do caminho cheia de frutos saborosos, onde passa um forasteiro arranca todos os frutos e vai embora. Pouco importa para o dito cujo, se aquela árvore abastecia aquela comunidade, o que importa é que ele ( o forasteiro) saiu de sacola cheia!
Saudades das histórias do meu avô Dário, da minha avó Itaciana, quando em roda de conversa em fim de tarde, tomando um bom chimarrão, reuniam toda a família e a criançada se deliciava com os “causos” contados. E todos amavam verdadeiramente ser douradense.
Será que esse progresso acelerado, que turva a nossa visão, tampa os nossos ouvidos, tem colaborado para que não percebamos que nossa cidade ninho, freqüentemente é visitada por aves sorrateiras.
Até aqui Laquicho vai bem....
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