Maria Lucia Tolouei
Itaciana Pires Santiago, pedagoga, psicopedagoga, especialista em família e políticas públicas, fala ao Douradosagora sobre bullying. A prática identificada como assédio moral, constrangimento, é verdadeira afronta aos direitos humanos.
De acordo com a coordenadora pedagógica da Escola Loide Bonfim e que apresenta o programa na TV, "Você. Com Itaciana", entre os possíveis fatores determinantes ao bullying figuram questão econômica, social, familia e valores transmitidos tanto pelo ambiente familiar como pelo contexto social no qual estão inseridos vítimas e autores.
'Vício' que transita de casa para a escola e de lá para o mundo afora. Confira a entrevista.
Itaciana, qual é a gênese do problema bullying, especialmente no meio escolar? Por que isto virou moda agora?
Na verdade o problema existe há muito. As primeiras pesquisas iniciaram nas décadas de 70 e 80. A análise do problema é ampla e são vários os fatores que interferem na prática do bullying. Questão econômica, social, familiar, valores que são transmitidos tanto pelo ambiente familiar como pelo contexto social no qual estão inseridos o que pratica como o que sofre a agressão.
As agressões variam nas formas de praticar. Pode ser agressão física, praticada mais por meninos, e a psicológica, mais comum entre meninas.
Portanto é necessário considerar que, ao contrário do que muitos pensam, o bullying não é caso isolado do ambiente escolar, pode até começar na escola, mas se estenderá muitas das vezes para o ambiente externo, trazendo conseqüências sérias de comportamento, prejudiciais aos relacionamentos.
Quais as medidas preventivas e corretivas, em caso de ocorrência? Há alguma experiência que deu certo neste sentido?
Não existe um modelo pronto e acabado, tem que ser considerado as particularidades locais, culturais, sociais. Metodologias aplicadas pelos professores, o ambiente de convívio da criança, do adolescente, respeito às diferenças, valorizar crenças, etnias, culturas, enfim, usar de coerência na sua prática pedagógica, educacional, todas as pessoas que de forma direta e indireta interferem em atitudes comportamentais dos indivíduos.
O bullying tem qualquer relação com a violência doméstica? Qual o impacto desta sobre o comportamento do escolar?
O comportamento do ser humano não se manifesta fragmentado, é reflexo de todas as experiências vivenciadas ao longo de sua existência, por todos os caminhos por onde passa.
A violência doméstica respinga, inclusive, na terceira idade que depende dos mais novos para subsistir. Qual seria a saída?
Responsabilizar as pessoas das quais depende a pessoa da terceira idade, adotar medidas sérias e efetivas, cumprir a Lei (Estatuto do Idoso), denunciar aos órgãos competentes.
Como lidar com a prevenção à droga no ambiente escolar? Medidas preventivas vêm se mostrando eficazes?
No ambiente escolar trabalha-se a prevenção, que é o melhor caminho, orientar a criança, o adolescente dos perigos que a droga causa, desenvolver projetos, buscar parcerias com outros órgãos, como Conselho Anti Drogas, promotorias.
Quanto a segurança, os traficantes, atitudes mais amplas e de competências dos governos federal, estadual e municipal têm que ser tomadas no combate a esse crime tão prejudicial e cruel. Pessoas envolvidas nessa prática se tornam dependentes e subjugados, alvos fáceis e manipuláveis. As medidas adotadas ainda são tímidas, ações mais firmes e diretas precisam ser tomadas.
Qual é sua visão acerca de políticas públicas para a unidade famíliar? O que falta para isto? Há chance de funcionar? E porque não vigora?
A família é o centro de tudo, nela você encontra todos os componentes da sociedade e é nela que temos que centralizar os esforços de uma política pública, onde se valorize a cultura local, as especificidades de cada região.
A composição da família, hoje já com outro entendimento, que não a nuclear (pai, mãe e filho) e sim uma família composta de mãe e filhos, pai e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, homossexuais e filhos adotivos, enfim a constituição familiar atual traz uma nova forma de agir enquanto família e a política pública procura acompanhar essa trajetória da família em nossa sociedade, o que nem sempre consegue.
Muito há que se fazer quando se pensa em políticas públicas para a família, precisamos de políticas afirmativas, deixar de tutelar, proporcionar condições de trabalho digno, onde o indivíduo possa sentir parte integrante na construção de um Brasil realmente forte, que valoriza o seu povo, a sua gente.
A escola está dando conta que fazer as vezes da família, quanto a educação integral (material, humana e espiritual)?
O objetivo da escola não é de fazer as vezes da família e sim fortalecer os laços entre comunidade escolar e familiar, proporcionando dessa forma uma certa tranqüilidade no agir do educador quanto ao seu educando.
Agora com programa na TV, a senhora conseguiu otimizar sua atuação no campo da psicopedagogia? As pessoas podem participar com perguntas, sugestões? Como funciona a dinâmica?
O programa é de entrevistas, procuramos sempre assuntos que estão em destaque nas áreas social, educacional, saúde, enfim tudo o que interfere no dia-a-dia das pessoas e os entrevistados são profissionais que atuam na área que está na pauta do dia.
As pessoas podem participar com sugestões através do e-mail e fone, participação direta ainda não fazemos. Estamos no período de férias, retornaremos no segundo semestre.
Considerações finais
Todos somos responsáveis pela sociedade constituída, que temos hoje e que foi construída ao longo do tempo, atravessando eras, construindo valores, sedimentando preconceitos, banalizando muita das vezes a vida, os indivíduos, que na busca desenfreada pela subsistência se embrutece e perde suas raízes.
É chegado o momento de reflexão, para onde queremos ir? Queremos continuar? Como está, é o ideal? O que pensa você? Este é o desafio, a arte que temos de pensar, refletir, utilizar nosso livre arbítrio em prol do meu bem estar e de todos os que estão a minha volta. Tenho certeza que novos horizontes surgirão e um mundo melhor aparecerá!